O dramaturgo Jair Raso comemora em 2025, 40 anos de atuação na dramaturgia, escreveu mais de 30 peças, como diretor e iluminador, e produtor em mais de 50 diferentes produções. Confira detalhes da sua carreira em uma entrevista exclusiva para o blog do Teatro Feluma:
Trajetória no Teatro
O que despertou seu interesse pelo teatro e pela dramaturgia?
Comecei a fazer teatro em 1976, ainda no colégio (Colégio Tiradentes). A ideia era montar uma peça para angariar fundos para nossa formatura. Os fundos nunca vieram, mas a paixão pelo teatro ficou.
Quais foram os momentos mais marcantes ao longo dos seus 40 anos de carreira?
São muitos. Minha peça A Corda e o Livro abriu o encontro de psicanálise que comemorou os 100 anos do IPA, Instituto de Psicanálise fundado por Freud. Após a apresentação, três psicanalistas discutiram o texto. Outra peça, Maio, antes que você me esqueça, também foi encenada em um encontro de psicanalistas de Belo Horizonte, com um debate após a encenação. Esse diálogo entre a arte e a psicanálise é sempre muito rico. Por outro lado, fazer sucesso de público também é gratificante. Apresentações do meu musical Chico Rosa lotaram o Palácio das Artes, e fizemos sessões extras. Um dia, entrando no teatro, fui abordado por um cambista vendendo ingressos para uma sessão esgotada.
50ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança
O que significa para você ter cinco espetáculos em cartaz durante esta campanha tão emblemática?
Ter cinco espetáculos — quatro em que sou autor e diretor, e a peça O Belo Indiferente, de Jean Cocteau, em que sou diretor — é uma verdadeira mostra do meu trabalho ao longo desses anos.
Qual é a importância de eventos como a Campanha para a cena teatral local e para a formação de público?
A Campanha é de fundamental importância para o teatro mineiro. Além de oferecer ingressos a preços mais acessíveis, é uma injeção de ânimo para os produtores. Fazer teatro não é fácil; diria até que é um ato de resistência cultural. Eventos como a Campanha são verdadeiros bálsamos.
Processos Criativos e temas envolvidos
Cada um dos seus espetáculos em cartaz tem uma temática e uma estética muito particular. Conte um pouco sobre as inspirações e processos criativos de cada um deles:
- Uma Passagem para Dois: Aborda o confronto entre arte e economia, uma temática atual e desafiadora.
- Maio, Antes que Você me Esqueça: Explora a relação entre um filho e seu pai com Alzheimer, um tema de forte impacto emocional.
- Chico Rosa: Um musical que celebra o encontro imaginário entre Noel Rosa e Chico Buarque.
- Júlia e a Memória do Futuro: Fala sobre a reinvenção de uma mulher através da arte.
Procuro unir minhas áreas de interesse e estudo — neurociência, medicina e filosofia — em cada texto.
Há alguma mensagem ou reflexão que você gostaria que o público levasse após assistir às suas peças?
Pensar e se divertir não são antagônicos. É possível fazer as duas coisas no teatro.
Teatro e atualidade
Como o teatro pode dialogar com as questões contemporâneas e se manter relevante?
Dentre todas as artes, o teatro tem a grande vantagem de poder falar diretamente sobre os problemas de uma comunidade. O cinema é uma indústria do entretenimento. A televisão é outra indústria do Ibope. As mídias sociais são indústrias da desinformação em meio a tanto conteúdo. O teatro, por outro lado, é o artesanato do pensamento.
Futuro e legado
Após tantos anos dedicados ao teatro, o que ainda o motiva a criar e dirigir?
Há sempre uma ideia nova rondando no ar. A criação não tira férias.
Quais são seus planos para o futuro? Algum novo projeto em vista?
Consolidar o Teatro Feluma como um palco importante nas artes cênicas é nosso projeto do presente e do futuro. Para o próximo ano, estamos planejando um texto novo junto com o grande artista e comediante Carlos Nunes sobre a vida do médico e escritor Ângelo Machado.